Escravidão e violência: o caso do escravo Francisco

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Documentos do Arquivo Felix Guisard Filho revelam uma vergonha histórica: o trágico destino do escravo Francisco

Por Fabiana Cabral Pazzine 

Em Novembro de 1858 o movimento abolicionista brasileiro ganhava cada vez mais força e o combate à escravidão recebia variadas argumentações a favor da libertação. Alguns abolicionistas diziam que essa forma de trabalho não possibilitava um maior desenvolvimento econômico do país que, por esse motivo, não conseguia se adequar ao modelo capitalista pleno, em contrapartida, outros não toleravam a forma como os escravos eram tratados e faziam um apelo aos castigos que eram executados. Entretanto, ao contrário do quê se possa concluir, a violência, nas relações entre senhores e escravos não era exclusiva dos senhores.

Uma das caixas de documentos da mesma data no Arquivo Municipal de Taubaté revela a história do escravo Francisco. Vivendo em condições difíceis e sendo propriedade de João Baptista da Silva Gomes Barata, conhecido advogado da região no período, Francisco consegue um dia libertar-se do cativeiro mas, não lhe restando muita sorte, foi capturado tempos depois e entregue à Justiça, para que pudesse ser devolvido ao seu verdadeiro dono.

Provavelmente Francisco ficou desesperado, aterrorizado e principalmente revoltado com a sua situação de livre para novamente ser classificado como cativo. Ainda
preso, sob a guarda da Justiça, segundo os dados do corpo de delito feito pelos peritos Doutor Emilio Winther e Joaquim Pereira da Fonseca, Francisco se suicidou, ato que poderíamos interpretar de forma poética como o alívio de seus sofrimentos. Doutor Barata, ao saber do prejuízo que havia sofrido foi até a Justiça e deu abertura a um Processo Crime, por meio de um Auto de Corpo de Delito pois, queria ter certeza da causa da morte de sua propriedade porque caso seu escravo tivesse sido assassinado ao invés de ter se suicidado ele como proprietário deveria ser ressarcido do seu prejuízo.

Todos estes fatos aqui narrados não trazem a versão de Francisco porque na História as minorias, como é o caso deste escravo, têm as suas vozes caladas ou porque não existe o interesse das elites em tomar conhecimento desses fatos, ou pelo simples motivo de serem analfabetos. Apesar disto, Francisco nos revela um pouco mais sobre o cotidiano de um escravo e deste período histórico de Taubaté.

*Fabiana Cabral Pazzine é professora de história. Pesquisadora de História Cultural e Social.

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