Formas de recreação antes do Cinema

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Uma obra ainda inédita, o livro organizado por alguns dos mais ativos pensadores taubateanos retrata a memória do entretenimento em Taubaté antes da chegada do cinema. Apresentamos aqui uma pequena amostra dessa preciosidade, uma contribuição à história do teatro local.

Teatro São João

A ideia de construção de um teatro em Taubaté vinha desde meados do Século XIX. Todas as tentativas haviam, no entanto, malogrado. O Major Francisco Fernandes de Oliveira e Silva e o negociante Antonio de Carvalho Baptista resolveram, porém, no ano de 1876, a despeito de todos os obstáculos, levar adiante a idéia. A 24 de junho desse ano, com a adesão de mais três negociantes, o capitão João Affonso Vieira e os tenentes Joaquim Mariano da Luz e José Ignacio de Souza e Almeida, constituíram uma comissão, presidida pelo major e secretariada pelo negociante Batista e iniciaram o planejamento da obra. Decidiram angariar capitais por meio de subscrição pública de ações de 50$000.

Em breve contariam com o decisivo apoio de outros taubateanos, dentre os quais quatro representantes da família Monteiro: José Francisco Monteiro (Barão por essa época e depois Visconde de Tremembé), José Félix Monteiro (depois Barão e Visconde de Mossoró), José Gabriel Monteiro e Mariano José de Oliveira e Costa (“Mariano Moreira” e depois Barão de Pouso Frio, casado com uma irmã dos precedentes, d. Maria das Dores Monteiro), os quais além de subscreverem um grande número de ações, muitos cooperaram na orientação dos trabalhos.

A concessão de uma parte do largo da Princesa Imperial para a construção do prédio foi deferida pela Câmara Municipal em sessão de 1º de julho de 1876, mediante requerimento dirigido aos Edís e assinado por Francisco Fernandes de Oliveira e Silva, José Gabriel Monteiro, João Vicente Antunes de Camargo, Joaquim Leite de Camargo e Silva, Theodoro Carlos Stach e Barão de Tremembé.

Na ata daquela reunião consta o requerimento e o nome dos signatários, “pedindo a concessão do largo, terreno e taipas recentemente socadas no largo da Princesa Imperial, destinado a um rancho para os tropeiros que conduzem mantimentos para esta cidade, o qual a Câmara não tem podido levar a efeito por falta de numerário, tendo já despendido a quantia de um conto de réis, para nele levantarem um teatro, organizando uma companhia que, depois de acabado, conforme os rendimentos, irá indenizando aquela quantia despendida pela Câmara, o que depois de algum debate foi deferido conforme o pedido apresentado.”

José Gabriel Monteiro foi membro de Diretoria de Obras de fiscalização do teatro, que tomou o nome de “Teatro São João”.

Em 1877, assim se referia ao prédio o Dr. Francisco de Paula Toledo, na sua “História do Município de Taubaté”:

“O edifício ainda não está concluído, porém muito adiantado: está situado na Rua de Santa Cruz; contém setenta palmos de frente e 130 de fundo, com três ordens de camarote, além do saguão, um grande salão da terceira ordem; a frente do saguão, do lado da rua da Piedade, consta de três portas de arcada, com três janelas no salão; a frente do palco, do lado do largo da Princesa Imperial consta uma porta de arcada e cinco janelas, sendo três em cima e duas em baixo; ambas as frentes são de frontões e cimalhões; a parte lateral que dá para a rua de Santa Cruz tem um terraço na segunda ordem e um botequim em baixo deste. Todo o edifício é construído em taipa e tijolos, feito com elegância e arte e, conquanto ainda não estejam concluídas todas as obras do edifício, orça-se o dispêndio em mais de 30:000$000 (Trinta Contos de Réis).”

O Teatro de São João proporcionou durante muitos anos divertimento e cultura ao povo taubateano, funcionando até a década de 1920.

Foi demolido no segundo quartel do século atual e dele não mais restam sequer vestígios. Ainda hoje, entretanto, muita gente usa a expressão “Largo do Teatro” para designar a Praça Dr. Monteiro onde foi o primitivo largo da Princesa Imperial, que se chamou também largo da Liberdade, antes.

(Esse texto foi extraído da obra ainda inédita “Formas de Recreação antes do cinema”, feito em colaboração pelo Professor Gentil de Camargo, Sr. João Gigli, Sr. Roque Amoroso, Sr. Afonso Vieira Fonseca, Sr. José Cláudio Silva, Sr. Otaviano de Paula, Profª Maria Morgado de Abreu, Sr. José Benedito Moreira.)

 

Referência:

“Velhos Troncos” – Dr. José Bernardo Ortiz Monteiro – 1953 – pág. 302

Colaboração de José Cláudio da Silva

 

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