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Memória taubateana

Maria
Morgado de Abreu
Cem Anos

A protetora do patrimônio histórico

Maria Morgado de Abreu construiu as bases da moderna interpretação da História de Taubaté e do Vale do Paraíba.

No segundo quartel do século XX foi testemunha e agente das transformações das ciências sociais no mundo, participando do desenvolvimento de técnicas de pesquisa e atuação em trabalhos de campo, ao mesmo tempo em que as teses do desenvolvimento e interpretação regional se aprofundavam. Ao longo da vida, atuou em duas frentes que se encontravam o tempo todo: a pesquisa e a docência.

Enquanto pesquisadora aproveitou-se de todas as ferramentas que a recente revolução científica ofereceu e lançou as bases para a leitura e interpretação do desenvolvimento regional. Foi ela quem primeiro traduziu a história de Taubaté com rigor acadêmico e simplicidade textual, garantindo acesso a um universo antes restrito e criando um amálgama dos saberes populares com o científico.

Foi atuando como professora que colocava em prática aquilo que ansiava com suas pesquisas. Era irremediável defensora do protagonismo regional para a história nacional, entendendo e comprovando que o regional não é um elemento estanque em si. Sua dinâmica dialoga com o todo, apesar das suas especificidades.

Ao lado de outros importantes nomes da cultura local, Maria Morgado de Abreu é a tradução da proteção do patrimônio histórico de Taubaté e do Vale do Paraíba.

Origens

1919-2008

Maria Morgado nasceu em uma casa de estilo eclético, sede de uma chácara que, segundo Paulo Camilher Florençano, “expressava linhas de franciscana sobriedade”. A casa ficava na antiga “Ruinha”, próximo ao córrego do “Convento Velho”. Naquele tempo a via era passagem obrigatória para as roças da zona sul e sudeste (Itaim, Remédios, Sete-Voltas, Ribeirão das Almas). Antes considerada muito distante da cidade, hoje a rua está incorporada ao centro urbano e recebe o nome oficial de rua Mariano Moreira... e o córrego está totalmente canalizado. Era filha de José Felix Morgado e Coleta Nogueira de Barros. Seus irmãos foram José, Ernani, Felix e Fernando. Aos 23 anos casou-se com José de Abreu, coronel da polícia militar, mais tarde comandante do Batalhão General José Marcondes Salgado (5º BPMI), e tiveram quatro filhos, Antonio Luiz, José Henrique, Luiz Fernando e a caçula Maria Regina.

Vida Acadêmica

O professor Paulo Camilher Florençano narra que a vocação de Maria Morgado de Abreu para o magistério foi delineada nos seus últimos anos de estudante no antigo “Ginásio do Estado” de Taubaté. Ela foi aluna da 1ª turma do colégio, tendo se formado em 1935. Dali foi direto para a Universidade de São Paulo, estudar História e Geografia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a embrionária Universidade de São Paulo (USP). Ali foi aluna de Pierre Monbeig, geógrafo francês que figura entre os cientistas franceses contratados pela Universidade para ajudar no desenvolvimento de pesquisas e na formação da grade curricular da instituição. Além das atividades em sala de aula, os alunos realizavam rotinas de trabalho paralelas, como pesquisas de campo e participação em seminários.

Estas aulas de história serão no arquivo municipal e faremos pesquisas sobre diversas cidades, a vontade. O professor vai reservar Taubaté para mim.

Maria Morgado de Abreu

Foi nessa correspondência com sua mãe que Maria Morgado deixou registro do momento seminal dos estudos científicos de História de Taubaté.

Memória da urbanização

Maria Morgado de Abreu e José de Abreu

A carreira no magistério foi iniciada logo no seu retorno para Taubaté.
Em 1941, ingressava no Instituto Comercial de Taubaté. Depois foi professora na Escola Estadual Monteiro Lobato e também na Escola Municipal José Ezequiel de Souza.
Em 1942 casou-se com José de Abreu e passou a morar na região do Alto de São João. A casa estava exatamente no trecho por onde mais tarde passaria a Rodovia Presidente Dutra. Com a construção da autoestrada mudou-se para a casa onde moraria até o fim da vida, localizada na Praça Santa Teresinha, e que hoje consiste em uma das poucas construções da antiga Companhia Predial de Taubaté que permanece intacta. A casa é um exemplar da memória da urbanização da cidade.

História de Taubaté

Enquanto lecionava também desenvolvia pesquisas das mais diversas. Primeiro com estudos geográficos para o Conselho Nacional de Geografia e, em seguida, enveredando por quantos temas fossem necessários. Publicou artigos sobre o folclore local, passando pela cerâmica popular, medicina popular e a famosa feira da Breganha. Mais tarde essa coleção, acrescida de mais pesquisas, viraria o livro “Aspectos do Folclore em Taubaté”. O artigo “Taubaté, de núcleo irradiador de bandeirismo a centro industrial e universitário do Vale do Paraíba”, publicado pela primeira vez na Revista do Sul, em abril de 1968, seria ampliado, tornando-se livro homônimo 17 anos mais tarde. Ainda em 1968, pleiteou e instituiu na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, o curso de História do Vale do Paraíba e de Taubaté, um outro ponto de virada nos estudos de História Regional.

Bibliografia

1980

Aspectos do Folclore em Taubaté

Editado pela Prefeitura Municipal

Aspectos do Folclore em Taubaté é o resultado de um projeto pedagógico realizado ao longo da década de 1970 pela professora Maria Morgado de Abreu no Ginásio Municipal. A pesquisa mapeou as tradições folclóricas que permaneciam vivas naquela época. O livro foi dividido em três grandes temas: a cerâmica popular, a medicina popular e a tradicional feira da breganha. Os pesquisadores notaram o caráter geográfico das manifestações populares. Não há a universalidade da linguagem das tradições folclóricas. Cada bairro e região da cidade tem sua própria dinâmica. Os saberes populares são geralmente compartilhados entre familiares e pela tradição oral, sem sistematizações complexas. As tradições são mutantes e sofrem interferências do contexto social e econômico vigentes. Aspectos do Folclore em Taubaté foi publicado em 1980 na coleção Taubateanas, patrocinado pela Prefeitura de Taubaté.

1991

Taubaté - de núcleo irradiador de bandeirismo a centro industrial e universitário do Vale do Paraíba

Editado pela Prefeitura Municipal

A obra mais conhecida de Maria Morgado consiste em um livro que conta de forma didática a história de Taubaté.
 “Taubaté - de núcleo irradiador de bandeirismo a centro industrial e universitário do Vale do Paraíba” é, como quase todos os seus livros, um conteúdo de apoio pedagógico, pensado para ser usado por estudantes.  Por isso, foi escrito com linguagem simples, mas sem abrir mão do rigor acadêmico.
Dividido em sete capítulos, a história de Taubaté é analisada desde as primeiras ocupações humanas na região. Aspectos geográficos, históricos e culturais são mesclados com dados estatísticos de economia e sociedade. O que faz dele livro de cabeceira para todos os interessados na história local.

Mais de três décadas depois de seu lançamento, a obra continua sendo a mais citada por pesquisadores da história regional e local.

1992

Culinária tradicional do Vale do Paraíba

JAC Editora/ Centro Cultural Objetivo

 

Ao lado do professor Paulo Camilher Florençano, a professora Maria Morgado de Abreu produziu uma das mais significativas pesquisas sobre os hábitos alimentares do paulista. Incentivada pelo projeto Cadernos de Cultura, capitaneado pelo Centro Educacional Objetivo e a Fundação Nacional do Tropeirismo, escreveu e publicou o livro “A Culinária Tradicional do Vale do Paraíba”. Muito além de receitas, o livro apresenta técnicas de construção de fornos e fogões, confecção de utensilhos de cozinha, a identidade das mais famosas quituteiras e as crendices e práticas de magia das cozinheiras. É um verdadeiro manual do caipira local.

1994 e 1995

"Aspectos Geográficos do Vale do Paraíba e Município de Taubaté" e “História de Taubaté através de textos”

Editado pela Prefeitura Municipal

Voltados ao público escolar, especialmente alunos da rede municipal de ensino, a professora Maria Morgado de Abreu lançou os livros “Aspectos Geográficos do Vale do Paraíba e Município de Taubaté”, em 1995, com coautoria de José Benedito Prado, e “História de Taubaté através de textos”, em 1996, com coautoria do professor Antonio Carlos Argollo Andrade.
As duas obras são complementares ao seu livro “Taubaté”, de 1981, com dados atualizados, novos textos e até mesmo algumas revisões.

Acervo

Além das publicações e pesquisas pessoais, Maria Morgado de Abreu realizou diversas exposições, escreveu para jornais e revistas de todo o Brasil, colaborou na realização de diversos trabalhos acadêmicos. Atividades que ajudaram na formação de vasto acervo documental que constitui um dos maiores (se não o maior) repositórios históricos fora de um museu em Taubaté. Essa é uma das mais ricas facetas do seu generoso legado à Taubaté é à história da ciência brasileira.
É a partir deste acervo que muitas das pesquisas realizadas pelo Almanaque Urupês são possíveis. Fica aqui a nossa homenagem.